Consagrado da Comunidade Católica Shalom
“O santo que mais falou de si mesmo – mas o fez com sinceridade e simplicidade, transformando em confissão, isto é em louvor a Deus, tudo o que lhe pertence – não é fácil falar. Homem e mestre, teólogo e filósofo, moralista e apologista: todas as imagens que transparecem como que em filigrana, e todas válidas, a quem observe perto Santo Agostinho de Hipona, bispo e doutor da Igreja. Homem, antes de tudo, com inquietações, os anseios, as fraquezas, como nos apresenta a leitura de suas confissões, nas quais mostra a realidade nua e crua de sua alma com sinceridade e candura”.
“Meu Deus, faze que eu recorde tua misericórdia para comigo e a proclame para agradecer-te. Que meus ossos sejam penetrados por teu amor e digam: Senhor, quem é semelhante a ti?” É importante que nesse dia, possamos olhar para a santidade de Agostinho foi dada por uma experiência forte e profunda da misericórdia e do amor de Deus. Por isso, possamos ler o momento decisivo da sua vida, em que foi o divisor de águas da sua conversão: “Quando essas severas reflexões me fizeram emergir do íntimo e expuseram toda a minha miséria à contemplação do coração, desencadeou-se uma grande tempestade portadora de copiosa torrente de lágrimas. Para dar-lhes vazão com naturalidade, levantei-me e afastei-me de Alípio, o necessário para que sua presença não me perturbasse, pois a solidão me parecia mais apropriada ao pranto. Alípio percebeu o estado em que me encontrava: o tom da voz embargada pelas lágrimas, ao dizer-lhe alguma coisa, havia-me traído. Levantei-me; ele permaneceu atônito, onde estávamos sentados. Deixei-me, não sei como, cair debaixo de uma figueira e dei livre curso às lágrimas, que jorravam de meus olhos aos borbotões, como sacrifício agradável a ti. E muitas coisas eu te disse, não exatamente nesses termos, mas com o seguinte sentido: “E tu, Senhor, até quando? Até quando continuarás irritado? Não te lembres de nossas culpas passadas!” Sentia-me ainda preso ao passado, e por isso gritava desesperadamente: “Por quanto tempo, por quanto tempo direi ainda: amanhã, amanhã? Por que não agora? Por que não pôr fim agora à minha indignidade?” Assim falava e chorava, oprimido pela mais amarga dor do coração. Eis que, de repente, ouço uma voz vinda da casa vizinha. Parecia um menino ou uma menina repetindo continuamente uma canção: “Toma e lê, toma e lê”. Mudei de semblante e comecei com a máxima atenção a observar se se tratava de alguma cantinela que as crianças gostam de repetir em seus jogos. Não me lembrava, porém, de tê-la ouvido antes. Reprimi o pranto e levantei-me. A única interpretação possível, para mim, era a de uma ordem divina para abrir o livro e ler as primeiras palavras que a encontrasse. Tinha ouvido que Antão, assistindo por acaso a uma leitura evangélica, sentiu um chamado, como se a passagem lida fosse pessoalmente dirigida a ele: “Vai, vende todos os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-me.” E logo, através dessa mensagem, converteu-se a ti. Apressado, voltei ao lugar onde Alípio ficara sentado, pois, ao levantar-me, havia deixado aí o livro do Apóstolo. Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o qual quis olhar: “Não em orgias nem bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne.” (...) De tal forma me converteste a ti que eu já não procurava esposa, nem esperança na terra, mas permanecia na fé que em tantos anos já tinha mostrado a minha mãe em sonhos” .
Que Deus nos renove a graça e a esperança no amor de Deus. Possamos ter a memória de Santo Agostinho como aquele que não descansou até experimentar do amor de Deus. E quando assim o fez, lançou-se na vida entregue a Deus de forma plena, santa e pura. Que Deus nos renove hoje a graça da SANTIDADE.
Texto retirado da Comunidade Católica Shalom e postado por Manu Lima.